sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

 O que sufoca é a angústia da espera

a casa vazia sob a poeira

o silêncio da resignação

 

Lá fora a pitangueira cresce tímida

à sombra do Guapuruvu  e as flores

mínguam antes mesmo de desabrochar

 

Dezembro as mangas caíam de maduras

mas na frieza do peito conservei

uma delas para degustação

domingo, 18 de setembro de 2022

Expectativa

 A gente deita e concebe na mente a obra perfeita, em toda sua potência e esplendor. Mas daí acordamos e nos deparamos com o bloco de mármore crú. A matéria prima intratável à nossa frente. Pegamos as ferramentas, vamos talhá-lo! Mas a mão exita, o martelo é pesado e os dedos vacilantes se recusam a segurar o cinzel.  Mais um dia, voltamos pra cama e tudo que a gente toca se transfora em pedra, o mundo para a nossa volta, todo petrificado.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Presença

 Presença é quando a gente sabe

que mesmo que a pessoa suma

por um instante ou por toda a eternidade

aquilo que ela deixou permanecerá

sendo em sua essência aquilo

que era quando ela estava aqui

Exemplo:

Presença pode ser uma coisa sutil

um cheiro deixado no travesseiro

uma escova esquecida no banheiro

ou um fio de cabelo no meu paletó

presença também pode ser

aquilo que não acaba nunca mais

o impacto de um gesto generoso

a lembrança de um dia preguiçoso

ou sua imagem pregada nas retinas

raio de luz que brilha todos dias

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Lonely in Little London

I’m lonely in Little London

onde cabines telefônicas cafonas

macaqueiam a estética estrangeira

do colonizador que nos cagou

e voltou para a puta que o pariu

mas quem dera ser brega fosse

seu grande problema


aqui na madrugada, onde

inglês não passa nem vê

marginal que vaga olhando pro céu

entra na dança e vai para o beleléu

just take a walk on the wild side

você vai ver com que se tinge

o vermelho intenso do chão

a polícia aqui é da pesada

e anda sempre acompanhada

de guarda civil armada

pronta para matar piá que sai

de banda pela quebrada 

domingo, 12 de setembro de 2021

Ensaiando uma pequena crônica

     Na língua portuguesa têm umas palavras complicadas que podem dizer mais de uma coisa ao mesmo tempo por exemplo a palavra carteira que pode indicar um objeto onde se guardava dinheiro mas também pode ser aquela pequena mesa de escola onde passamos alguns bons tempos tiramos boas sonecas e certas notas às vezes não tão boas assim. Se pensarmos nas notas que podem também ser musicais quase todas podem dizer mais do que só sons como o Dó que além de melódico é também um lamento por quem está mal. Em certas circunstâncias mesmo que tardias você pode se tocar de erro cometido depois de cair em Si daí tentar sair em Ré de mansinho num dia de Sol e quem sabe se nunca mais voltar Lá...

    As frutas então podem causar a maior confusão a um iniciante desta língua. A manga também pode estar na camisa a maçã pode estar no rosto a laranja pode também ser cor tal como o vinho que por sua vez pode ser bebida que a gente gosta e nem precisa ter essa cor para continuar sendo vinho. Nem mesmo alguns nomes próprios estão livres de gerar confusão. Têm enfim as Marianas que podem ser pessoas algumas até bem próximas podem cativar ou se comparar à gente comum. Mas fica o alerta pois estas também podem ser um abismo muito muito profundo e distante no qual muita gente já se perdeu lá pras bandas do Japão.


domingo, 22 de agosto de 2021

Mensagem Singela

Acredito que aquilo que é singelo

pertence à categoria das coisas

incomensuráveis que no entanto

cabem mesmo num diminuto frasco

 

Coisas singelas podem ser guardadas

numa carta num gesto ou até mesmo

no intuito imperfeito desses versos

digitados nas profundezas da web

 

O importante é que a coisa singela

seja humildemente despretensiosa

de modo que  mesmo na ausência

completa da linguagem ela ainda

possa expressar sozinha o conteúdo

sensível da palavra simplesmente

sem metáforas possa te abraçar e

descomplicadamente representar

o meu mais puro e sincero carinho


quarta-feira, 7 de julho de 2021

Alado

Há tempos quis compor um poema alado

que voasse alto como um condor

esse urubu sofisticado

Tal como o fez Tom

emulando voo e graça

e cantando

fazer morada em suas asas


Obstino-me mas acordo 

e o que vejo no espelho sou eu

mórbido e elegante 

com meu verso contudo 

desengonçado ao contato

terrestre, condenado

a vagar livre e solitário

pela imensa couraça

da América do Sul