domingo, 1 de dezembro de 2013

Asfixia em 6 de Setembro

Pendurado como um pêndulo
pelo pescoço
no sonho em que me suicido
e acordo de pau duro

O suor escorrido no rosto
recapitula a asfixia erótica
Sangue da menstruação
que não me saiu da cara

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Função fática

Perdoe aquela conversa rasa
foi só receio de me atrapalhar
perdido em reações exageradas 

Passional demais
você disse um dia...
Mas, fugir? À Patagônia já não é possível 

Fingir então; por isso meço as palavras
num método seguro
para comedir

Assim quando inevitável te topar
conciso direi sorrindo
É lindo vê-la feliz, ao lado do novo amor

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Versos Aromáticos












Há tempos quis compor
versos aromáticos que
atraíssem o meu amor
feito feromônio de macho
almíscar, e fasciná-la, fêmea
ao recitá-los baixinho
boca e ouvido aproximados
fazendo-a paralisar
Mariposa hipnotizada na lâmpada

Por fim aprisioná-la para sempre
em meu peito amarelo âmbar

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Flashes

Um dia novo nasce,
Eu envelheço carregando o outro

Memórias que não se perdem no tempo
Ondas em profusão de pensamentos

Ora rio, ora padeço
De segunda a sexta eu não vivo

-Amanhã muda, prometo;
- Sábado será diferente,
- Domingo estarei liberto!

Mas um flash back sacana, me remete à segunda feira.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Supernova

Brilha em meu céu
Estrela da manhã,
Lembrando o querer exaltado de Bandeira

Condensados,
Mil corpos celestes
Em seu núcleo duro,               
Formam uma maçã simbólica

Impassível no céu,
De tanto brilhar explode
Cintilante em supernova

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Saturno em Escorpião

Num dia escasso de sol
Me vi diante de vó Yayá;
Última velhinha escrava na família

Emocionado sob o céu cinza
Senti passar por mim
Um corpo espectral ou de energia.

Naquele dia sem sol
Submergi num abismo de medo
Dor, confusão e melancolia.

Então toca o telefone e volto
Ao quarto, supondo ter sido só
O sonho de um abismo.

Na linha, Vanessa dá a notícia 
da morte de Dona Vilma.
E eu pergunto espantado:

- Sério?! Será uma conspiração?
Disse que não; era só Saturno 
Entrado em Escorpião.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sobre o Caso Pesseghini

A progressiva deficiência
pela fibrose cística
não conteve o aspecto
escabroso da chacina

Num ímpeto homicida
Marcelinho menino
liberto de um íntimo 
obscuro contido no ID

Irracional intuito?
Irreprimíveis impulsos
a despeito da extrema lei divina;
“Não matarás”?

Real irreversivelmente real
o disparo da pistola
estoura na cara a dúvida que ronda
seu pequeno abismo existencial

Menino angelical
ou facínora também?
Anjos e demônios silenciam-se 
no córtex pré-frontal

terça-feira, 6 de agosto de 2013

"Se quiser entrar num buraco de ratos, de rato você tem que transar"

 Há nas profundezas imundas dos esgotos da cidade, uma corja incomparável de ratos. Sobrevivendo entre a merda e os dejetos, se escondem da luz do sol, e do contato humano, têm em seus genes a marca profunda de sua espécie: selvagens, de natureza covarde, e oportunista, hábeis nas tarefas mais baixas do reino animal, e por isso mesmo, a seleção natural os fez, talvez, a mais bem sucedida espécie de mamíferos da natureza.

  Ontem, uma dessas criaturas surgiu na minha cozinha. Foi um susto enorme! Não soube o que fazer e fiquei estático, atônito.... De que ralo teria saído? Como conseguiu chegar até ali? Me perguntei assustado. Eu nunca tinha presenciado, até o momento, contato tão próximo com aquela criatura obscura. Mas já não importava; plantado no chão que era meu, o animal tinha me desafiado. Em questão de segundos fui obrigado a estar preparado para ele, e ele para mim. Não fizemos nada. Apenas nos encaramos, e assustados, calculávamos o momento do exato enagage. Mas não reagi, E então, passados os segundos do terror inicial, comecei a fita-lo como num transe...

  Me ocorreu que talvez, ambos não sejamos para ser vistos um pelo outro, como já me disse Clarice. Seu corpo comprido e espichado de rato era muito hábil , estava acostumado a se esgueirar pelos canos, passar pelas fretas para devorar com pressa toda a migalha que conseguir. Essa é sua natureza. E essa natureza me aterrorizava, já que dadas as criaturas de Deus, eu à sua semelhança tenho a natureza dos anjos, e me habituei demais a desfrutar do que é meu por mérito. 

  Mas afinal, o que posso eu contra um rato? O que há em MINHA natureza, para querer a morte de um rato?  Sei que ele é mais rápido do que eu, e se tentasse golpeá-lo, ele fugiria com facilidade por algum vão, onde eu não o alcançaria mais, e se por ventura conseguisse o atingir, eu, ainda assim, nada poderia contra a sua linhagem, ou contra os caminhos sujos que o trouxeram à minha cozinha, pois minha cozinha já estava enfestada; uma vez visitada e essas pragas deixam seu rastro às outras  que se aproveitam do descuido dos homens para se alimentar. O rato tem a sua estirpe, e isso me punha em desvantagem.

 Então concluí que talvez não pudesse livrar a cozinha dos ratos. Mas poderia um rato me fragilizar? Poderia eu me sentir afoito pela presença de uma criatura tão baixa? Poderia  ter razão o meu terror? Então me lembrei de quando a faxineira nos alertou: “encontrei cocô no canto da dispensa, é melhor colocar veneno na casa inteira” Aquilo não me gerou nenhum alarme, e ignorei o fato. Se estivesse atento poderia ter notado o odor que ele deixava no ambiente (é muito peculiar o cheiro de um rato) poderia ter notado suas fezes, poderia ser fácil evitar a infestação. Mas naquele dia não dei importância ao fato, e agora, um rato se estampava, comprido e delgado em meu chão de azulejos quadrados. E agora ele iria me fragilizar?

  Decidi que não me sentiria assim, e meu olhar passou a ser de curiosidade; quanto mais o fitava, mais me interessava por ele, e comecei a pensar como o rato se safaria da situação. Ele, cujo lugar são os esgotos cheios de merda, ele sabia que estava no meu ambiente, na minha cozinha. Naturalmente, deixei minha postura combativa, naturalmente ele notou, e antes que eu pudesse piscar os olhos, ele escalou habilmente três lances de prateleiras e saltou pela janela. Se foi...


  Amanhã ele estará de volta, pensei. E eu não serei homem para travar batalhas com ratos. Amanhã desocupo a cozinha, queimo os objetos e me rendo aos ratos.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Segredo dos Teus Olhos

Não adianta a maquiagem,
Ve-se em seus olhos,
A insígnia
De tua imensa obsessão

Não escondem nada,
Ao contrário;
Desvendam-te
E te sentenciam
Ao definitivo destino:

No fundo de tuas retinas
Reflexões e flash backs
Evocarão o passado latente
Nas fotos do aniversário
Teus olhos sempre fitarão os meus

E denunciarão
A quem quiser ver
A sina muda de uma atração

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Sobre o Caso Daniella Perez

Diante do vago
o amor há de ser mais visceral
feita a dúvida
matéria ardente
na mente do indivíduo
sentiu Guilherme
que não teria o amor de Daniella
não aceitou
inviolável parede da alma
e penetrou-lhe o pulmão
com um punhal

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Conto de Fadas

Bruxa não,
Branca de Neve!

Dizem que é comum
ao final de um amor frustrado
vilanizar a pessoa amada

Comigo não,
não me rebaixo!

Se me ofereces um falso coração
te devolvo
a maçã envenenada

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Império de sonhos

Que o império sublime dos sonhos
Povoe minha mente
Que a tenha por completo
Que me iluda eternamente

Pra que eu possa viver
Assim de sonhar
Sem dor, fracasso, medo
Sempre me realizar

E que a felicidade plena
Me assalte o pensamento
Com um prazer inexistente

Pois mesmo que falsa essa alegria
Do sofrimento à revelia
Mas que me contente

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Sacrifício

Eis me aqui Stela,
Medindo esforços
De mortificação
Pra o que tiver que ser...

Dedos queimados,
Tímpanos furados,
Olhos salgados,
Num ritual
De autoflagelação.

Impuro intento
De santificação,
Em pura súplica
Por teu perdão,

Eu te pergunto:
Serei eu teu homem fiel?
Forte para afastar, da carne,
Os pensamentos que afligem?

Sente a dor deste martírio,
E se tiver que ser,
-Que seja-
Com o sacrifício de uma adolescente virgem.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Amor Platônico

Questionando por que a outra havia me deixado
Rosa perguntou se fui romântico...

- Romântico?!

- Só há romantismo em Platão, pequena
- Dediquei-lhe amor concreto,
- Amei como uma britadeira!

terça-feira, 26 de março de 2013

Arqueologia de um Caráter



Escavar a matéria
De uma cova rasa,
Numa arqueologia do caráter
E das escolhas dela.
Exumar com minúcia
O sentimento residual,
Para encontrar
E trazer à tona
A missão paradoxal:
Eternizar o amor,
No epitáfio da pessoa amada.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Agora é tarde


Agora é tarde

“A chama queima. O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas...tem de ser...
Amor?...- chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa.”
(Manoel Bandeira)

E me vi
diante das cinzas
da paixão incendiária,
alimentada de Napalm

Da matéria
restou a cova rasa
e a aflição profunda
que ainda velo antes de deitar

Hoje num pesar
solitário e metafórico
a figura do leite derramado
como nunca
me fez sentido
o houve dentro esvaeceu...
meu sêmen desperdiçado no ralo.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Bang Bang














Assim nos vestimos 
para o ultimo encontro:
um com armas até os dentes
outro de couro colete de kevlar
encarados no quarto
pareados para o duelo de bang bang
Que não faria sentido

Suspense pairando no ar
Silêncio...
Parece que vi no espaço entre nós
passar uma planta rolante...
e ao menor sinal um disparo
e ao disparo um revide
e cada um caiu de um lado
sem tempo pro último desejo
só uma vontade vaga
intenção inexplicada
de estarmos de novo nús

sábado, 5 de janeiro de 2013

O Flautista Fajuto


Não se queima a casa 
pra se livrar dos ratos

Queimamos

De que outra forma se 
combate uma infestação?

Quiséramos que 
como no conto
com encantamento

Mas o fogo terá 
cem anos de duração
e tudo o que lá habitou
será também extinto

Por novos tempos 
esperarei riscando 
a parede religiosamente
a contar os dias
na esperança de que
noutra data
noutra casa
com outra flauta
doce enfeitiçada

-Que não a de Hemelin-

Meu entoar atraia
então uma lagarta
listrada que após 
longa incubação
aguardada eclodirá
com a esperança
de um novo mundo
renovado das cinzas
nosso eterno amor
contido em crisálida

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Um corpo que cai


Do auto da torre do sino
Um susto
Um tropeço
Um grito
De baixo, o estampido

Cai a vítima do amor
Cumplice do homicídio
Morta
E acaba o filme.
Mas qual seria a sorte de um outro destino?
Pergunto a Hitchcock
...inútil questionar o diretor

Do alto de suspenses reais
Meu ego
Meu erro
Meu orgulho (ferido)
De baixo, o estampido
E a vida se prolonga sem direção

Esbarrada

Por favor, não me incrimine
Que não foi minha culpa
Nem me venha com julgamento moral
Só deus sabe como excita
Uma esbarrada finjida no pau